Conselho de jornalistas: um caminho possível

Por imprensa livre e independente, APJor lança seu novo site neste 1º de junho

Por Fred Ghedini - Em menos de dois meses concentram-se três datas significativas para os jornalistas e a imprensa. 7 de abril, 3 de maio e 1º de junho são momentos importantes para fortalecer valores básicos da democracia

Por Fred Ghedini*

Em 1º de junho de 1808, há 212, anos José Hipólito da Costa lançava em Londres o Correio Brazilience – Armazém Literário, considerado o primeiro jornal brasileiro. Em homenagem ao colega português e ao Dia da Imprensa, a APJor lança neste mesmo 1º de junho, seu novo site.

O Dia da Imprensa fecha um período de menos de dois meses com três datas importantes para os jornalistas e a imprensa, amarradas num período de lembrar e valorizar a democracia e as raízes de cada uma delas. Além do 1º de junho, comemora-se em 7 de Abril o Dia do Jornalista e em 3 de maio o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa. Tratamos aqui, de cada uma dessas datas.

O Correio e o Dia da Imprensa

Durante muitos anos, o Dia da Imprensa no Brasil foi em 10 de setembro, quando no mesmo 1808 do lançamento do Correio Braziliense em Londres e da chegada da família real ao Brasil, saiu a primeira edição da Gazeta do Rio de Janeiro. Ao contrário do jornal de Hipólito da Costa, a Gazeta era um jornal oficialista publicado pela corte.

Em 1998, sancionando uma lei que teve origem em proposta apresentada pela Fenaj, Fernando Henrique Cardoso mudou a data para 1 de junho. E em 1999, pela primeira vez, comemorou-se o Dia da Imprensa em 1º de junho.

Apesar da distância de mais de dois séculos e da separação transatlântica, os jornalistas brasileiros têm coisas em comum com nosso colega José Hipólito. Novamente enfrentamos tempos de um poder obscurantista, que teima em desconhecer a laicidade dos poderes da República, além de promover e incentivar ataques à imprensa, aos jornalistas e ao poderes de um estado democrático.

Cada número das 175 edições do Correio Braziliense que foram publicados entre 1808 e 1822, mensalmente, era um calhamaço de cerca de 100 folhas, no formato de livro. Essa e outras informações são descritas por Lília Diniz, no Observatório da Imprensa (11/6/2008).

Hipólito da Costa defendia a liberdade de imprensa, difundia os avanços da ciência e novas ideias culturais e artísticas, criticava a Inquisição (ele ficou preso durante três anos por causa de inquisidores em Portugal, antes de mudar-se para Londres, onde escrevia e publicava seu jornal) portugueses, por sua filiação à maçonaria, entre outras coisas.

Os 500 brasileiros e portugueses que assinavam e recebiam o Correio podiam acompanhar pelo Correio fatos internacionais, tomar conhecimento de teorias iluministas e de novos conceitos de economia. O fim da Inquisição, da escravatura e da censura eram defendidos por Hipólito da Costa no jornal.

7 de abril

O Dia do Jornalista foi instituído no Brasil em 1931, por decisão da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), como homenagem a Líbero Badaró, criador do jornal Observatório Constitucional que surgiu na luta contra a imprensa oficial e a censura, imposições do regime imperial que tinha como principal mandante Pedro I.

Líbero Badaró, que também era médico, defendia as ideias republicanas e a liberdade de imprensa. Foi morto por inimigos políticos em 1830, fato que contribuiu para o agravamento da crise política do império e culminou com a renúncia de D. Pedro I exatamente um ano depois.

A própria ABI foi criada pelo jornalista Gustavo Lacerda e seus colegas em 1908, no mesmo 7 de abril. Ele era contra o uso da informação jornalística como mercadoria. Acreditava que os jornais deveriam funcionar como cooperativas, voltadas para informar e levar conhecimento à população.

No 7 de abril de 2020, a Associação Profissão Jornalista convidou várias organizações da categoria para um Dia do Jornalista unificado. Buscamos, na união, uma força maior para lutar contra as agressões e ameaças que o presidente da República, Jair Bolsonaro, e seus apoiadores, fazem a jornalistas, jornais, emissoras de TV e outros veículos.

Participaram do 7 de abril de 2020, além da APJor, a ABI, a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas, que têm 31 sindicatos filiados), o Sindicato dos Jornalistas de S. Paulo, a Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental e o curso Repórter do Futuro, da Oboré.

Fizemos um Ato Virtual que reuniu em uma sala mais de 70 pessoas, de todas essas organizações e de outros Sindicatos de Jornalistas do país.

Antes de ser atacado por vândalos, o Ato já passava da metade, quando a sala virtual teve que ser derrubada. Leia, no final, um resumo do que falou cada um dos participantes.

Como homenagem aos jornalistas brasileiros, a repórter da Folha de S. Paulo Patrícia Campos de Mello recebeu o Troféu Audálio Dantas. A ex-esposa de Audálio, Vanira Kunc, leu uma carta aberta, como parte da homenagem.

O médico Dráuzio Varella fez parte da mesa, representando os profissionais da saúde, no momento em que estes lutam e são também as grandes vítimas do desgoverno que trata tão mal a saúde e os brasileiros.

3 de maio

O dia foi escolhido devido ao Seminário sobre a promoção de uma imprensa africana independente e pluralista, em 1991, que contou com a participação de jornalistas de vários países do continente africano. Na ocasião, foi publicada a Declaração de Windhoeck (nome da capital da Namíbia, onde ocorreu a 26ª Conferência da Unesco, órgão da ONU para a Educação, Cultura e Comunicação).

O centro da declaração era a defesa do Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que trata justamente do direito à liberdade de expressão e opinião e da liberdade de imprensa.

*Fred Ghedini é jornalista e presidente da APJor

APJor

APJor

A Associação Profissão Jornalista (APJor) é uma organização sem fins lucrativos, criada em 2016 por um grupo de 40 jornalistas, com o objetivo de defender o jornalismo ético e plural e valorizar o papel do jornalista profissional na sociedade brasileira.