Por Antônio Graça *
A jornalista Maria Rejane Guimarães e Silva, recém-formada na Universidade Paulista (Unip), produziu um relevante Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), a monografia A Transição do Jornalista da Mídia Analógica frente ao Avanço da Tecnologia, apresentada em novembro de 2020. O trabalho examina, com riqueza de dados, análises e depoimentos de um time de craques da imprensa brasileira, vários aspectos de como o jornalista enfrentou a necessidade de reinvenção e capacitação diante de uma nova realidade tecnológica e operacional.
De acordo com a autora, o profissional do jornalismo vislumbra a internet como um leque de possibilidades. “Com o aporte dessa tecnologia no Brasil no inicio dos anos 90, o jornalismo vem experimentando constantes modificações em suas formas de praticar suas competências no que diz respeito ao exercício da noticiabilidade, da apuração, reportagem e principalmente do ajuste ao ambiente webjorrnalístico (jornalismo em mídia digital) mundial”, afirma.
Silva pondera que atualmente ainda são poucas as informações no campo das pesquisas acadêmicas sobre o tema em questão. Por isso considera que a relevância dessa monografia é observar as práticas adotadas pelos profissionais de comunicação analógica, mais especificamente cursos que precisaram fazer para continuar atuando no mercado. Ou saber por que decidiram abandonar as salas de redação e montar seus próprios “canais virtuais, estabelecendo assim uma comunicação mais intimista com o publico”.
Nesse sentido, uma das partes particularmente interessante do trabalho, pelas revelações que proporciona, são as entrevistas com os profissionais, aspecto fundamental da pesquisa, conforme avaliação da própria autora. Segundo ela, os entrevistados foram rigorosamente escolhidos, atendendo critérios pré-determinados. Entre eles: terem começado suas carreiras em jornais impressos; terem mais de 30 anos de carreira; participarem do processo de mudança das redações analógicas para digitais.
Foram escolhidos Roberto Fernandes de Souza (Bob Fernandes), Carlos Eduardo Cerioni (Edu Cerioni), Eleonora Lucena, José Luís Nassif, Lucio Flávio Pinto, Alayr Ruiz, Manuel Alves Filho, Cynara Menezes,e Mino Carta.
Alguns momentos dos depoimentos
- Luis Nassif: “A minha história é um pouquinho diferente das demais, eu fui o primeiro a trabalhar com a informação eletrônica. Em 1987, 1988, eu abri mão de um convite da Globo, saí da Folha numa negociação que o Frias fez com José Sarney e o Saulo Ramos por denúncias que eu tinha feito, e eu tinha um programa de televisão na TV Gazeta voltado para o mercado chamado Dinheiro Vivo, na época eu montei A agência do dinheiro vivo como uma newsletter, estava começando a informação eletrônica,então nós lançamos a primeira agência de informações online do país.”
- Manuel Alves: “Eu decidi migrar porque era uma novidade muito gostosa. Porque a gente, que foi formado numa redação analógica, num jornal impresso, o que acontece? Você escreve e o leitor é muito passivo, ele lê e pronto. Às vezes, um ou outro escreve para a carta ao leitor, mas isso é uma quantidade ínfima. Com os Blogs na internet, isso mudava totalmente. Você escreve e daqui a pouco as pessoas já começavam a comentar, se concordavam ou discordavam, criticavam. Isso é muito legal, era um retorno que o jornal impresso não te dava, foi uma transformação”.
- Cynara Menezes: “(…) Eu realmente sou uma pessoa apaixonada pelo jornalismo digital, eu acho que não tem mais volta pro papel e nem eu desejo essa volta, por que o digital me dá umas possibilidades tão bacanas sobre o modo jornalismo. Se você prestar atenção em um post de um site, os intertítulos que e uma coisa que a imprensa escrita tem. No lugar dos intertítulos, eu coloco vídeos sobre o assunto, eu encho meu texto de hiperlinks.”
- Eduardo Cerioni: “Eu estava no impresso, perdi o emprego. Foi naquele desmonte do Jornal Bom Dia. O que acontece, essa migração é em nome total da economia. Chega uma hora que você fala: ‘E aí o que vou fazer?’ Vou pedir emprego em São Paulo, tá na hora de eu ficar em Jundiaí e fazer alguma coisa aqui, aí tive a idéia de fazer o site. Com certeza, o papel acabou porque o papel é caro, embora a gente diga que todo mundo gosta de ver no celular não é bem verdade. Tem um povo mais idoso, velho, gosta no papel, tanto é que eu faço dois jornais por ano, duas edições especiais do JundiaíAqui… Uma redação virtual, trabalha eu em casa, trabalha meu repórter na casa dele, a fotógrafa na outra ponta da linha, a gente vai juntando os três o material, e vai embora. Na verdade, a gente se vê no bar, acabou essa história de redação, reunião de pauta. Reunião de pauta é cinco minutos no zap.”
São depoimentos como estes que, alem de revelarem os aspectos tecnológicos da questão, mostram o lado humano desta travessia que os profissionais fizeram do jornalismo analógico para o digital. Revelam seus medos e angústias, as opiniões – boas e ruins – sobre o webjornalismo e os desafios que enfrentaram para ingressar num novo tempo e numa nova realidade.
* Antônio Graça é jornalista e associado da APJor
TCC: A Transição do Jornalista da Mídia Analógica Frente ao Avanço da Tecnologia: Reinvenção e Capacitação
Autora: Maria Rejane Guimarães e Silva
Orientadora: Profª Me. Cibele Buoro
Curso: Jornalismo – Instituto de Ciências Sociais e Comunicação – Jornalismo; Universidade Paulista (Unip)
Páginas: 254
A Transição do Jornalista da Mídia Analógica frente ao Avanço da Tecnologia