Resenha biografia Samuel Wainer

A vida e a obra de Samuel Wainer, um gigante da imprensa brasileira

O livro Samuel Wainer – O Homem que Estava Lá, da jornalista Karla Monteiro, contempla a vida intensa de Wainer desde a infância até o auge e o declínio de sua carreira. Além da “precisão da pesquisa histórica”, a obra tem uma “arrebatadora narrativa de repórter”, diz Antonio Graça, em resenha para o site da APJor

Por Antônio Graça*

Biografia samuel wainerO jornalista Samuel Wainer teve uma vida marcada pela aventura, pela ousadia, por muitas batalhas, vitórias, derrotas e grandes polêmicas. A extraordinária história deste homem que, com as suas virtudes e seus defeitos, foi um dos gigantes da imprensa brasileira, está retratada com maestria no livro Samuel Wainer – O Homem que Estava Lá, da jornalista Karla Monteiro, recentemente lançado. É uma obra escrita com a precisão de uma ampla pesquisa histórica e uma arrebatadora narrativa de repórter.

Foram cinco anos de trabalho, tempo em que, segundo a jornalista, ela viveu a intensa vida de Samuel Wainer. A biografia contempla desde a infância –, quando migrou por volta dos oito anos de idade da Bessarábia, atual Moldávia, para o Brasil –, a juventude, os primeiros passos no jornalismo, a consolidação profissional, o auge e o declínio. Tudo isso contextualizado com aspectos detalhados da vida pessoal, como os casamentos – e as separações – com Bluma Chafir e Danuza Leão.

Tendo como cenário a vida política do País, especialmente dos anos 1930 aos 1960, o livro mostra como Wainer criou em 1951 a Última Hora, que se desdobrou numa cadeia de jornais, que inovou a forma de fazer jornalismo e chegou a sete capitais, além de manter sucursais em Brasília e no interior de São Paulo. Mostra também a polêmica e controvertida maneira como o jornalista obteve os recursos para criar e manter estes jornais que, segundo seus concorrentes e inimigos, veio da benção nada desinteressada de Getúlio Vargas. O presidente teria aberto “ao duro repórter os cofres do Banco do Brasil – e o bolso de poderosos”.

“Vendi a alma ao diabo”

Seja qual fosse a origem dos recursos, o fato é que Wainer era visto como um intruso no negócio do jornalismo, no clube fechado do baronato da imprensa. Não bastasse esta intromissão, ele inflacionou os salários dos jornalistas, ao pagar na Última Hora mais do que o mercado pagava até então. A polêmica personalidade de Wainer tinha, no entanto, aspectos bastante sombrios, que  ele revelou com uma sinceridade desconcertante na sua autobiografia Minha Razão de Viver, lançada em 1987, da qual Monteiro cita a seguinte declaração: “Fiz horrores para conseguir anúncios, vendi minha alma ao diabo, corrompi-me até a medula”.

Ainda como repórter de O Jornal, de Assis Chateaubriand, no Carnaval de 1949, Wainer deu um dos maiores furos do jornalismo político brasileiro. Entrevistou Getúlio Vargas, em São Borja, no Rio Grande do Sul, onde estava  recolhido havia alguns anos. Na entrevista, o político anunciou com grande impacto a sua volta. Na mesma quinta-feira, segundo relata Wainer em Minha Razão de Viver, O Jornal soltou a manchete “Eu Voltarei como Líder de Massas”. O Jornal vendia 9.000 exemplares. Vendeu, naquela quinta-feira, 180.000.

Getúlio: uma grande amizade

A entrevista com Getúlio Vargas foi o início de uma grande amizade. Mas Wainer foi também amigo de Juscelino Kubitschek e João Goulart. E com os três presidentes interagiu intensamente nos âmbitos jornalístico e político.

O livro de Monteiro cobre também, com riqueza de detalhes, outros momentos da vida pessoal e profissional, como a verdadeira guerra jornalística e política que travou com Carlos Lacerda. Conta também, com detalhes e intensidade, os momentos difíceis e o declínio de Wainer, quando enfrentou a CPI da Última Hora, foi preso, perdeu seus jornais, cassado e exilado.

A história de Wainer foi de fato uma aventura, como ele próprio declarou: “Contemplando meu percurso, constato ter vivido uma experiência humana completa ao cumprir uma trajetória que me permitiu conhecer a ascensão, a gloria e a queda”

É um trecho de uma citação do escritor Otto Lara Resende, com a qual a autora finaliza o livro, que melhor sintetiza a complexa personalidade de Wainer. Diz Resende: “O que sempre admirei em Samuel Wainer foi a sua obstinada teimosia de viver e sua inesgotável capacidade de reinaugurar-se. Enfrentou todas as adversidades. Resistiu a todas. Foi um homem de jornal. Como homem de jornal, foi sobretudo um extraordinário mobilizador  de equipe. Tenho certeza de que Samuel Wainer pertence definitivamente à história do jornalismo brasileiro. Daí ninguém o expulsa. A morte abre o começo do seu julgamento imparcial”.

Sai-se da leitura deste livro com a certeza de que Samuel Wainer foi um grande e completo jornalista: repórter, publisher, editor, diretor de redação e colunista. Em todas essas atividades deixou a marca de seu brilho e da paixão pelo jornalismo que, segundo ele mesmo, foi sua razão de viver.

*Antonio Graça é jornalista e associado da APJor

Ficha

Samuel Wainer – O Homem que Estava Lá

Autor: Karla Monteiro

Editora: Companhia das Letras

583 páginas

Preços aqui: Impresso: R$ 89,90; Ebook: R$ 39,90

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APJor

A Associação Profissão Jornalista (APJor) é uma organização sem fins lucrativos, criada em 2016 por um grupo de 40 jornalistas, com o objetivo de defender o jornalismo ético e plural e valorizar o papel do jornalista profissional na sociedade brasileira.