Por Antonio Graça
Situado numa dimensão temporal cada vez mais efêmera, devido à velocidade com que a informação circula hoje, o jornalismo ganha, por outro lado, crescente relevância na construção da história, da memória e nos conflitos envolvidos neste processo. Essa é uma das muitas valiosas conclusões que se tira do livro Jornalismo e Guerra de Memórias nos 50 Anos do Golpe de 1964, de Allysson Martins, disponível no catálogo (lançamentos) da Editora Edufro (Universidade Federal de Rondônia).
O passado, de acordo com o autor, ganha mais atenção no sistema produtivo da informação com a modalidade mais recente do jornalismo – a sua versão digital (ciber), espaço onde a memória se apresenta em uma nova ecologia, em novo paradigma. “A ligação entre memória e jornalismo acontece no ato do processo de produção deste, em sua prática e em seu produto”, afirma.
Segundo o autor, hoje, mais de 50 anos depois do golpe, a mídia possui ainda mais relevância nas sociedades contemporâneas, bem como as memórias, agora digitalizadas e em uma nova ecologia, ou seja, com novas especificidades e procedimentos de recorrência. “Uma investigação das guerras de memórias sobre a efeméride do cinqüentenário do golpe nesse mais recente (ciber) espaço midiático se apresenta como uma conjunção de fatores propícios, sobretudo tendo como estudo de caso os especiais jornalísticos digitais”, afirma Martins.
Para tanto, ele selecionou as produções de sites jornalísticos já relevantes nos período do golpe e da ditadura, como Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, “ambos apoiadores do golpe”, e dois nativos digitais, surgidos já nos anos de 2000: o portal G1, do maior grupo midiático do país, “que apoiou não ó o golpe como a ditadura através dos seus outros veículos”, e o Último Segundo, setor jornalístico do portal iG.
A partir desta seleção, o livro busca responder à seguinte pergunta: “qual é o papel da mídia e de que maneira ela conduz à estabilização da história nos períodos e processos de guerras de memórias, em (ciber) espaço de novas configurações do jornalismo e da memória, tendo como base para a investigação as produções dos especiais do jornalismo digital sobre a efeméride dos 50 nos do golpe”.
A obra está dividida em duas partes, com três capítulos na primeira, dedicados a questões sobre memória, história e processos memoriais conflituosos na sociedade, ao evidenciar suas relações com a mídia e o jornalismo digital. A segunda parte, com dois capítulos, traz um estudo de caso, apresentando o golpe e a ditadura militar, o papel dos meios de comunicação no pré-golpe e da Comissão Nacional da Verdade, na pós-ditadura, além da avaliação dos especiais do cinqüentenário do Golpe de 1964
Escrito a partir da tese de doutorado defendida em 2017, o livro apresenta exemplar rigor metodológico e conceitual e traz momentos instigantes para a reflexão sobre o fazer jornalístico, a exemplo do seguinte trecho: “O jornalismo é considerado um primeiro rascunho da história e da memória coletiva, um registro inicial do que é considerado relevante socialmente pela perspectiva de uma instância de produção comunicativa em um espaço e tempo específicos. Os jornalistas não oferecem apenas o primeiro rascunho, mas utilizam o passado para explicar fenômenos contemporâneos”.
Ficha
Jornalismo e Guerra de Memórias nos 50 Anos do Golpe de 1964
Autor: Alysson Martins
Páginas: 253
Download gratuito: catálogo (lançamentos) da Editora Edufro (Universidade Federal de Rondônia).