Por Fernando Salles*
Ainda é cedo para dizer se o movimento Sleeping Giants causará no Brasil o mesmo impacto sentido nos EUA. Por lá, só um portal de extrema-direita, o Breitbart News, perdeu o equivalente a mais de R$ 50 milhões com a debandada de 4.500 anunciantes. Mas aqui, apenas a notícia da sua chegada já é algo excelente, em um momento em que a guerra contra as fake news parecia perdida.
O mais novo combatente promete tirar o sono dos propagadores de notícias falsas. Ou melhor, fazer secar – ou, pelo menos reduzir drasticamente – a fonte que financia essa prática.
No Brasil, o movimento criado nos EUA no fim de 2016, conseguiu em apenas duas semanas de atuação que empresas como Santander, Ponto Frio, Visa, Caixa Econômica Federal, Oi e Nestlé se manifestassem contrariamente a discursos de ódio e à disseminação de fake news, além de anunciar providências para que seus anúncios não contribuam mais com esses portais.
Enfrentamento
Aqui, como nos EUA e em outros 15 países, todo o enfrentamento ao discurso de ódio é feito a partir de uma conta no Twitter. No final de maio, apesar do pouco tempo de vida, o perfil brasileiro (@slpng_giants_pt) já somava mais de 320 mil seguidores.
A estratégia para “tornar o fanatismo e o sexismo menos lucrativos” é mostrar às empresas que seus anúncios andam aparecendo em páginas destinadas a reverberar o ódio a quem pensa diferente.
Sim, o lembrete se faz necessário: com a mídia programática, pela qual anúncios são exibidos de forma automatizada, as marcas nem sempre controlam os espaços nos quais seus produtos e serviços aparecem. O que o Sleeping Giants faz é tirar um print da tela e postar no Twitter marcando o perfil da empresa anunciante.
As curtidas, retweets e comentários dos seguidores incentivam, claro, a repercussão de cada caso. O foco é um site de cada vez, até realmente desmonetizá-lo.
Marchas, contramarchas e uma vitória
Logo nos dias iniciais de atuação do Sleeping Giants brasileiro veio o primeiro revés: o Banco do Brasil, que havia bloqueado anúncios em um site, voltou atrás após a decisão receber críticas do vereador Carlos Bolsonaro, filho do atual presidente da República e do chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), Fabio Wajngarten.
No entanto, poucos dias depois, em 27 de maio, sobreveio nova vitória contra as mentiras. O Tribunal de Contas da União (TCU) determinou que o Banco do Brasil suspendesse parte de suas campanhas digitais em sites, blogs e redes sociais. O TCU atendeu a um pedido do Ministério Público de Contas para abertura de investigação sobre interferências políticas no BB.
O TCU determinou a suspensão dos anúncios até que a Controladoria Geral da União (CGU) institua um grupo de autorregulamentação, formado por representantes de entidades da sociedade civil, como Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), para definir regras de destinação das verbas publicitárias do banco.
*Fernando Salles é jornalista e associado da APJor