Pesquisa Perfil do Jornalista Brasileiro

Quem somos nós? Vem aí um (bom) desafio para os jornalistas brasileiros

A meta da pesquisa “Perfil do Jornalista Brasileiro 2021”, que começa em abril, é ouvir 10 mil profissionais. Entre os objetivos estão conhecer o grau de precarização do trabalho, as condições de saúde laboral e os efeitos das inovações tecnológicas na profissão. A APJor é uma das apoiadoras da pesquisa.

Por Fred Ghedini*

Entre final de abril e começo de junho deste ano, jornalistas brasileiros(as) serão convidados(as) a responder ao questionário da pesquisa “Perfil do Jornalista Brasileiro 2021: características sociodemográficas, políticas, de saúde e do trabalho”.

Trata-se de um trabalho coletivo da Rede de Estudos sobre Trabalho e Identidade dos Jornalistas (RETIJ), vinculada à Associação Nacional dos Pesquisadores em Jornalismo (SBPJOR), que tem como objetivo contribuir com, pelo menos, três novos temas de enorme importância para a categoria profissional: a precarização do trabalho jornalístico; as condições de saúde laboral; os efeitos das inovações tecnológicas nos saberes e fazeres da profissão.

A organização será dos Programas de Pós-Graduação em Jornalismo (PPGJOR) e Sociologia e Ciência Política (PPGSP), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A coordenação geral da pesquisa está com Samuel Lima, jornalista, professor, pesquisador e associado da APJor.

Em 2012, o levantamento realizado pela Universidade Federal de Santa Catarina, em parceria com a Fenaj e outras entidades de jornalistas e pesquisadores, constatou a existência de 145 mil jornalistas no Brasil.

Segundo os responsáveis pela realização do estudo naquela ocasião a pesquisa, feita por amostragem, teve um grau de confiança de 95% e “margem de erro inferior a 2%”. No MindMiners Blog explica-se que “um nível de confiança de 95% significa que se a pesquisa for repetida 100 vezes, daria resultados dentro da mesma margem de erro em 95 casos”.

Ampliando a base de respostas

Na atualização da pesquisa, nos próximos meses, a intenção dos pesquisadores é chegar a 10 mil respostas. Um desafio e tanto se tomamos como base que em 2012 ela foi respondida por 2.731 jornalistas, de todas as Unidades da Federação.

Para isso, a RETIJ estabeleceu um arco de parcerias com seis organizações de jornalistas e de pesquisadores que incluem, entre outras, a Federação Nacional de Jornalistas, a ABI e a própria APJor. E com o apoio da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (INTERCOM) na divulgação e mobilização da rede de respondentes.

Na edição de 2012, a pesquisa do perfil dos jornalistas brasileiros constatou que as mulheres eram 64% da categoria, embora nos cargos de chefia a predominância continuasse sendo masculina, e que a quase totalidade dos profissionais, 98%, tinham formação superior, sendo que entre eles, 91,7% eram graduados em jornalismo ou em comunicação social – habilitação em jornalismo. Certamente há uma enorme curiosidade em relação às mudanças que ocorreram na profissão nestes nove anos, com tudo o que vem acontecendo, particularmente em relação ao crescimento do uso de tecnologias de informação.

Para estimular o(a) leitor(a) a pensar as próprias hipóteses sobre tais mudanças, selecionei algumas frases retiradas da matéria “Jornalista do futuro será mais colaborativo e próximo da audiência” (Folha de S. Paulo, 26 de fevereiro):

  • “Quebrar a roda do jornalismo que trabalha para si mesmo, construindo relações mais próximas e qualificadas com o público será um dos principais desafios para os profissionais”, avalia Moreno Osório, professor da PUC-RS e co-fundador do Farol Jornalismo;
  • “Se a gente não está pensando o jornalismo para construir e fortalecer comunidades, a nossa tendência é cair na irrelevância. As pessoas querem falar, interagir e participar do debate público. A gente tem que romper o distanciamento que o jornalista tinha da sua audiência”, diz Natália Mazotte, coordenadora do Programa de Jornalismo e Comunicação do Insper; e
  • “A pior crise do jornalismo é a crise do pensamento”, diz o jornalista, professor da ECA-USP e integrante do grupo de pesquisa JDL, da USP, Eugênio Bucci: “Para fazer a mediação do debate público, o jornalista precisa pensar. É um exercício intelectual, não um exercício de transmissão de dados. O jornalista interpreta e hierarquiza as informações e elege prioridades exatamente porque tem uma compreensão do mundo. O fundamental da formação do jornalista é o pensamento.”

 

O papel da APJor

A APJor, uma organização que tem na curiosidade sobre o futuro uma de suas características importantes, está certa que é imprescindível aprofundar os estudos para se conhecer o jornalismo praticado no Brasil, assim como é fundamental conhecermos o que está sendo feito, para além dos grandes veículos do triângulo Rio-Brasília-São Paulo.

Por isso, em sua Assembleia Geral de 13 de março, que ocorre a cada dois anos e quando a direção da entidade é eleita, uma das propostas a serem submetidas aos associados é a criação de uma linha de pesquisa visando conhecer melhor este enorme e diferenciado território do jornalismo brasileiro.

* Fred Ghedini é jornalista e presidente da APJor

Para saber mais:

Pesquisa investiga perfil do jornalista brasileiro, em 2021

APJor

APJor

A Associação Profissão Jornalista (APJor) é uma organização sem fins lucrativos, criada em 2016 por um grupo de 40 jornalistas, com o objetivo de defender o jornalismo ético e plural e valorizar o papel do jornalista profissional na sociedade brasileira.