Da redação
É vergonhoso: o deputado federal Arthur Lira, uma autoridade do Parlamento brasileiro, decidiu rasgar a Constituição e atacar o ICL Notícias e a Agência Pública. Essas duas mídias independentes limitaram-se a investigar e comentar o noticiário já amplamente divulgado na mídia corporativa sobre as denúncias de corrupção e abusos de toda ordem que se acumulam contra Lira.
Lira também processou o site Congresso em Foco, controlado pelo UOL, que foi obrigado por uma liminar a tirar do ar matéria sobre depoimentos da ex-mulher do deputado. O presidente da Câmara não atacou O Globo ou a Folha de S. Paulo, entre muitos outros, quando publicaram as denúncias contra ele.
Ataca mídias independentes e da maneira mais covarde: exigindo segredo de Justiça e remoção do noticiário nos dois sites, além de pedir valores astronômicos como “indenização por dano moral”. Por quase um mês, até que a primeira instância do Judiciário derrubasse o sigilo, o ICL Notícias não pôde sequer divulgar que estava sob ataque. O mesmo se deu com Natália Viana, da Agência Pública. Ao tentar intimidá-los dessa forma, o presidente da Câmara insulta e ofende a todos os jornalistas.
Caso Piauí
Lira não é a única autoridade brasileira a usar o Judiciário para censurar, intimidar e até levar à bancarrota jornalistas e publicações, como demonstra o Dossiê APJor do Assédio Judicial a Jornalistas. Essas autoridades, amparadas por um Judiciário profundamente equivocado, abriram caminho para processos semelhantes por cidadãos comuns.
A edição de junho da revista Piauí, que traz vasta reportagem sobre irregularidades no Ministério da Saúde do governo Bolsonaro, acaba de ser obrigada por decisões judiciais a retirar nomes citados no site e na edição impressa da revista, o que a obriga até a recolher exemplares das bancas. A única diferença com os tempos trevosos da ditadura empresarial-militar, quando recolher publicações era ação corriqueira da repressão, é que, agora, a reportagem inspirou uma investigação tanto no ministério como no Tribunal de Contas da União.
A Associação Profissão Jornalista (APJor) espera que Arthur Lira caia em si e retire, o quanto antes, as acusações absurdas que faz ao ICL Notícias e à Agência Pública. Também espera que a investigação baseada em denúncias da Piauí chegue a bom termo, obrigando a uma revisão das decisões equivocadas da Justiça. Oxalá obrigue também a uma indenização adequada para a revista Piauí.