Por Redação APJor
A Associação Profissão Jornalista (APJor) vai participar da próxima edição do Perfil do Jornalista Brasileiro – Características Demográficas, Políticas e do Trabalho, segundo ficou acertado entre dirigentes e associados da Associação que participaram de Roda de Conversa com os pesquisadores Jacques Mick e Samuel Lima, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Conduzida pelos pesquisadores dos Departamentos de Jornalismo e de Sociologia e Política da UFSC, o Perfil do Jornalista Brasileiro foi levantado pela primeira vez em 2012 e será atualizado para abarcar até 2020, segundo Jacques Mick, que coordenou a edição de 2012, e Samuel Lima, coordenador da pesquisa em 2020.
Um dado que deve se manter é que a quarta parte (25%) dos profissionais que trabalham como jornalista no Brasil não tem registro no Ministério do Trabalho. Mesmo entre os formados em jornalismo é grande o número dos que não se preocupam em obter o registro.
Esse é um aspecto importante a ser observado pois o registro é parte da defesa legal do jornalista quando levado a um tribunal. Se ele tem o registro, legalmente é um jornalista. Se não o tem, há a necessidade da obtenção de provas de que exerce a profissão de fato, para que tenha direito ao sigilo da fonte, preceito que está na Constituição Federal de 1988.
Um número que chama a atenção do que foi apurado até aqui pela equipe da pesquisa na UFSC é que o crescimento dos registros entre 2009 e 2019, 10 mil por ano, na média.
Isso não quer dizer que este seja o crescimento do número de profissionais, pois se assim fosse, teríamos no Brasil, até o ano passado, pelo menos 235 mil profissionais, tomando-se como base a estimativa de 145 mil jornalistas no país em 2012. É preciso analisar bem o que são esses registros e qual o percentual dos que foram atrás do registro, no período, e que são de fato jornalistas.
Critério
O critério adotado para definir jornalistas por parte dos autores da pesquisa abrange todos os que exercem a profissão, com ou sem diploma de Jornalismo. Segundo Mick e Lima, 98% dos jornalistas brasileiros têm curso superior, enquanto que 89% são graduados em Jornalismo, ou em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo.
O número total de jornalistas em 2012 talvez esteja subestimado, de acordo com Mick, devido à dificuldade de se obter dados confiáveis sem um órgão de registro eficaz dos profissionais, como seria um conselho profissional.
Nos conselhos, quando o profissional deixa de exercer a profissão, é dada baixa em seu registro. Assim fica mais fácil de definir o universo a ser pesquisado quando se traça o perfil de qualquer uma dessas 29 profissões que tem seus respectivos conselhos (28 são Conselhos de Fiscalização Profissional autárquicos e o 29 é a Ordem dos Advogados do Brasil).
Já nos registro junto ao antigo Ministério do Trabalho (atualmente uma secretaria do Ministério da Economia) não existe a baixa. Mesmo depois que o profissional muda de área de atuação, o registro dele continua válido.
Para definir quem são os jornalistas, os pesquisadores da UFSC cruzaram os dados com os dos formados em cursos de jornalismo, com os sindicalizados nos 31 sindicatos em todo o país, e com outras fontes, entre elas Relação Anual de Informações Sociais – RAIS, e números de formandos dos mais de 300 cursos de jornalismo do país.
O critério inicial utilizado foi o da autodeclaração. Mick disse que foi possível descobrir tentativas de fraudes em questionários respondidos porque alguns respondentes ofereciam dados que acabam sendo negados por informações vindas de outras fontes, como cursos de jornalismo, por exemplo.
Jovens e mulheres
Um levantamento intermediário, realizado em 2017, com mais de quatro mil respostas, apontou que a tendência ao predomínio de mulheres na profissão vem se mantendo, ao mesmo tempo em que cada vez mais jovens estão sendo atraídos para o trabalho de jornalista.
Outra característica que parece ter se acentuado ao longo dos anos é o elevado grau de estresse e número de doenças laborais, “alarmantes”, na visão dos pesquisadores.
Segundo Samuel Lima, em 2017 foi feita nova pesquisa utilizando a mesma base dos respondentes de 2012. Nesse novo estudo, foram ouvimos 1.233 jornalistas (online survey) que avaliou as suas trajetórias profissionais.
Dentre os resultados alcançados, 57% dos respondentes declaram se sentir estressados, 37% receberam diagnóstico de estresse, 16% receberam diagnóstico de transtorno mental, 24% estão diagnosticados com LER/Dort e 26% fazem uso regular de antidepressivos”, disse Lima.
Quanto às perspectivas em relação à profissão “o jornalista luta para alcançar um reconhecimento público”, avalia Mick. Mas “o número dos que conseguem é sempre muito pequeno em relação ao conjunto. Por isso ele fica pouco tempo na profissão e logo sai para uma carreira em outra profissão”, conclui. Devido a essa característica, o jornalismo tem sido classificado como uma profissão de carreira dual.
Como a pesquisa de 2012, esta nova edição também será feita pela internet. A expectativa é obter 10 mil questionários respondidos válidos, duplicando a base de dados da primeira versão. Com isso, aumenta a precisão dos dados obtidos em relação ao universo de jornalistas do país.
Os pesquisadores ainda não têm uma previsão para a realização do campo do estudo, considerando os desdobramentos das agendas acadêmica e política do país, no pós-pandemia.