Bolsonaro fez 116 ataques à imprensa em 2019, aponta levantamento da Fenaj

Por Redação APJor - “Nossa principal preocupação é com a democracia e as instituições democráticas, entre elas as que convencionamos chamar de imprensa”, diz Maria José Braga, presidenta da Fenaj

Por Redação APJor

Quase dez ataques por mês foram desferidos pelo presidente Jair Bolsonaro a profissionais jornalistas, veículos de comunicação e imprensa em geral, em seu primeiro ano à frente do País. O monitoramento vem sendo feito pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) desde janeiro de 2019 e, até outubro, constatou um total de 116 declarações contra a imprensa, sendo 11 ataques diretos a repórteres e 105 tentativas de desacreditar a imprensa.

Os dados dos dez primeiros meses do ano passado foram divulgados em 2 de novembro, véspera do Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas. O mês de dezembro registrou mais cinco ataques, todos classificados como tentativas de descrédito da imprensa. Quatro deles foram pelo Twitter. O mapeamento cobriu dados coletados com base em todas as postagens de Bolsonaro no Twitter e no Facebook, além das transcrições dos discursos e entrevistas oficiais, que constam no site do Palácio do Planalto. Foram avaliadas todas as ocasiões em que o presidente se refere a jornalistas, mídia, imprensa e produção de notícias. Como as fontes do monitoramento são limitadas, o número de ataques ao jornalismo é certamente bem maior que o já verificado.

No dia 20 de dezembro, por exemplo, Bolsonaro fez violentos ataques a profissionais que o esperavam na portaria do Palácio da Alvorada simplesmente por dever de ofício. Foram ofensas de teor homofóbico e pessoal. No mesmo dia, em nota, a Fenaj e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal ressaltaram que os ataques foram uma tentativa de desviar das denúncias que ligam familiares e amigos de Bolsonaro a atividades criminosas. Federação e sindicato também apelaram às redações para que reavaliem a decisão de deslocar repórteres para cobrir entrada e saída do Palácio da Alvorada, onde os jornalistas dividem espaço com apoiadores do presidente, que constantemente ameaçam os profissionais.

“Nossa principal preocupação é com a democracia e as instituições democráticas, entre elas as que convencionamos chamar de imprensa”, diz Maria José Braga, presidenta da Fenaj. “Também nos preocupa a questão objetiva da segurança dos jornalistas, quando um chefe de Estado ataca sistematicamente profissionais e veículos de imprensa, incentiva que seus apoiadores façam o mesmo, inclusive com intimidação, ameaças e até agressões. Bolsonaro potencializa a agressividade contra jornalistas e, com isso, afronta os valores democráticos.”

Violência contra jornalistas

O monitoramento dos ataques de Bolsonaro à imprensa constará no Relatório Anual da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, que será divulgado no próximo dia 16, no Rio de Janeiro.

Em 2018, os casos de agressões a jornalistas cresceram 36,36% em relação ao ano anterior. Foram 135 ocorrências de violência registradas pela Fenaj, entre elas um assassinato, que vitimaram 227 profissionais. A polarização do cenário eleitoral foi um dos fatores relacionados a esse aumento. Em 30 casos, os eleitores e manifestantes foram os agressores, mas em 23 desses 30 casos tratava-se de partidários do então candidato Jair Bolsonaro; nos outros sete casos, os agressores foram apoiadores do ex-presidente Lula, que não chegou a ser candidato.

“As declarações do presidente alimentaram a hostilidade contra jornalistas neste ano de 2019”, afirma o diretor Márcio Garoni, da Fenaj. “Alguns ministros também passaram a fazer uso dessa tática e isso incentivou apoiadores do governo a perseguir os jornalistas nos meios digitais, com mensagens ameaçadoras e exposição de dados privados. É uma tentativa desesperada de enfraquecer o exercício do jornalismo e de desviar o foco das denúncias contra o governo, que vêm se somando desde o início de 2019.”

A íntegra do relatório está no site da Fenaj , que continuará divulgando o balanço no ano de 2020.

Publicado originalmente no site da APJor em 2 de janeiro de 2020
1.353 acessos até 6/5/2020

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A Associação Profissão Jornalista (APJor) é uma organização sem fins lucrativos, criada em 2016 por um grupo de 40 jornalistas, com o objetivo de defender o jornalismo ético e plural e valorizar o papel do jornalista profissional na sociedade brasileira.